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quarta-feira, 14 de maio de 2014

A efemeridade da vida.

As pessoas envelhecem. Ontem eu era uma menina, hoje sou uma senhora. Ontem minha mãe era uma senhora, e eu me recordo do seu rosto quando ela tinha a minha idade, como me recordo do meu rosto quando eu tinha a idade do meu filho. Hoje minha mãe é uma idosa. Amanhã serei idosa, como ela.

E assim como nós envelhecemos, já repararam como a nossa casa também envelhece? Casa de avó tem mobílias antigas, panelas e louças velhas, bordados do tempo do rococó. Aquela casa linda da minha amiga, casa novinha que visitei anos atrás, hoje é uma casa antiga. Possui aquele mesmo jeito, aquela mesma personalidade, mas é antiga, tem décadas de história. Ainda que ela mude a pintura ou faça alguma reforma, continuará sendo uma casa antiga, como a minha.

Aquele relógio que eu comprei para durar - e está durando - já está ultrapassado. Como o da minha mãe. Mas eu gosto dele, funciona tão bem! Relógio de vovó. Já a minha filha compra relógios que não duram. Tem vários deles, para usar conforme a ocasião. Eu só tenho um.

Aqueles bordados que a minha mãe guarda com tanto zelo numa caixa, eu também os tenho. Os dela estão amarelados; os meus, amarelando.

Aquele casaco que minha mãe só usa em dias de muito frio está lá, no seu guarda-roupas. O meu também está aqui. É aquele mesmo casaco, o casado da vovó. Eu não era vovó quando o comprei. Hoje sou, e ainda o uso.

Sou do tempo em que as coisas duravam. Os móveis, as roupas, as panelas, os calçados, as mobílias, os relacionamentos.

Levávamos sapatos ao sapateiro, relógios ao relojoeiro, roupas às costureiras, panelas ao paneleiro, havia conserto para tudo, até para o casamento. As pessoas se casavam, compravam uma casa e viviam nela até o fim. Era assim. Vinham os filhos, vinham os netos... e a casa estava ali, sempre pronta para abrigar aquela família. Os netos, saboreando os doces da vovó, aquele mesmo doce que aprendi a fazer com minha mãe.

As coisas duravam o tempo de uma vida. Envelheciam conosco. Como as construções, como as máquinas, como os casamentos, como as amizades. Se estragassem, sempre havia conserto. Eu tenho uma máquina de escrever de 1940 que era do meu pai, e funciona perfeitamente. Mas não tenho mais o computador que comprei há três anos, está ultrapassado. Os novos programas não rodam nele.

As coisas não se desfaziam, não se corrompiam com o tempo. A palavra dada tinha valor, a integridade e a honestidade eram virtudes. Uma costureira não fazia um vestido mal feito, um trabalho qualquer não ficava pela metade. A gente podia acreditar nas pessoas. Não havia Código de Direito do Consumidor, mas a palavra dada, a honradez, a satisfação do dever cumprido. Tudo era feito para durar, pelo menos o tempo de uma vida.

Entre todas as coisas que existem, tudo envelhece e um dia se acaba. Mas eu encontrei uma que não envelhece nunca, e vocês haverão de concordar comigo: as igrejas. Por mais antigas que sejam, são sempre novas. Por mais que os bancos tenham mais de 300 anos, por mais que as pinturas sejam milenares, as igrejas são sempre impecáveis, sempre novas.  A mesma igreja onde minha mãe rezou, eu rezo, minha filha reza, meus netos rezam, meus bisnetos rezarão. Ali encontramos algo que está além do Tempo: a eternidade. Isto enquanto forem igrejas. Se forem vendidas e tornarem-se bares ou hotéis, envelhecerão, como tudo nesta vida.

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