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terça-feira, 28 de novembro de 2023
Será que Deus resolve todo tipo de problema?
segunda-feira, 27 de novembro de 2023
Quem é Padre Renato Burigo?
Na visão de uma paroquiana convertida.
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Conheci o padre Renato quando me mudei para o Capão da Imbuia, bairro ao leste de Curitiba.
Meu filho já estava com 11 anos quando resolveu fazer catequese, sendo que eu nem era católica. Disse que seus amiguinhos todos faziam, e que ele também queria conhecer Jesus.
Mandei que procurasse uma igreja por perto e se informasse. Ele foi, trouxe uma autorização para eu assinar e passou a frequentar a tal catequese.
Era costume naquela paróquia carimbar a frequência à missa dominical numa carteirinha, e os catequizandos tinham de ir à missa aos domingos. Meu filho não ia, porque tínhamos outros compromissos. Então, o padre mandou me chamar para cobrar explicação. Eu fui lá, cheia de razão, enfrentar o Padre. Era o Padre Renato.
Cheguei na secretaria bastante irritada. Por quê domingo? Ora, a semana tem sete dias! Ele que fosse em outro dia! O Padre me dirigiu um olhar de compaixão e aceitou a justificativa. Parece ter compreendido o tipo de família que se tratava. E o menino foi liberado das missas dominicais - por ora.
Algumas semanas se passaram e num belo dia, enquanto eu lia o livro Confissões no meu quarto (alguém havia me emprestado e eu estava constrangida de devolver sem ler), na cozinha o meu marido pintava garrafas para cromoterapia - éramos adeptos a terapias alternativas. Absorta no livro, cheguei àquela parte do jardim, quando Agostinho ouviu o canto de uma criança que lhe parecia ser de um anjo, chamando-o para Deus. Achei aquilo um absurdo! Fechei o livro e lancei um desafio ao ar: "Se isto for verdade, eu vou ligar este radinho de cabeceira e vai tocar uma música para mim agora!" E tocou. "Larga de ser boba e vem comigo, existe um mundo novo e quero te mostrar... Que não se aprende em nenhum livro, basta ter coragem pra se libertar, viver, amar...".
Levei um susto e corri ao meu marido: "Amanhã vou lá naquela Igreja Católica onde o menino faz catequese. Vou lá ver como é". Meu marido me olhou, assustado: "Eu não vou".
Dia seguinte, eu fui. A igreja estava em reforma e a missa aconteceria no salão paroquial. Entrei, fiquei bem no fundo, só queria ver como era. Não sabia o que era uma missa, nem conhecia as orações, quando sentar, quando levantar. Teve um momento em que todos se sentaram e o padre começou a falar.
Era a homilia, e ele falou sobre mim! Como assim?? Falou sobre Confissões, sobre a música no jardim, sobre terapias alternativas, enfim, ele discorreu sobre a minha vida! Como seria possível ele saber de tantos detalhes, se ninguém me conhecia naquela região?
Terminada a missa, fui falar com ele. Queria fazer a experiência na Igreja Católica. Ele me acolheu e disse que eu deveria começar indo às missas com frequência, para entender.
Fui para casa atordoada. E naquela mesma noite eu sonhei com o rosto daquele padre. Havia uma gravação na sua face esquerda, como se fosse uma tatuagem, um carimbo, com as letras JHS dispostas em uma espécie de monograma. E ouvi, com muita clareza, uma voz me dizer: "Fica com ele, é meu filho amado". Oi??
À tarde daquele mesmo dia eu voltei lá e quando entrei na secretaria, olhei diretamente no rosto dele, e novamente vi aquela inscrição, mas agora, bem acordada. Não entendi nada.
Aquela imagem se fixou na minha mente para sempre, e também aquela frase: "Fica com ele, é meu filho amado".
Era o Padre Renato Burigo, e eu deveria ficar ao seu lado.
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"Seduziste-me, Senhor, e me deixei seduzir". Este foi o versículo escolhido para a sua ordenação presbiteral (27/11/1983).
Pensa num homem apaixonado pela Eucaristia, por Nossa Senhora, por celebrar missas! Lembro de vê-lo chorar olhando para as suas mãos: "São ungidas! Eu sou um Padre!" Lembro que ele chorava sempre - sempre! - que falava de Nossa Senhora.
E pensa num homem enérgico! Descendente de italianos, tinha um temperamento impetuoso, falava alto, aplicava toda a sua energia no seu sacerdócio e no pastoreio daquele rebanho que lhe fora confiado, zelando por cada um de nós como um verdadeiro pai. Cuidava de cada ovelha como se fosse a única! Se alguém não vinha à missa, ele já sentia falta e queria saber o que tinha acontecido.
Frequentava a casa dos paroquianos diariamente, mal alguém diferente aparecia na missa, logo buscava saber quem era, provocava amizade e se auto convidava para alguma refeição. Queria conhecer as ovelhas de perto, saber sua história, seus anseios, suas inquietudes, ninguém lhe passava despercebido. Pastor com cheiro de ovelhas.
Não gostava que viessem falar com ele antes da missa, para não lhe tirar a concentração. Cada missa era como se fosse a única, era ali que a transformação acontecia, que de padre se transformava em Cristo. Percebíamos isso com muita clareza, que não era ele, mas o próprio Jesus que nos falava.
Era uma responsabilidade tremenda! Tinha um cuidado extremo que as pessoas entendessem quando explicava a Palavra de Deus, estudava aqueles mesmos versículos centenas de vezes, debruçava-se neles em oração, meditava, e nos esmiuçava todos os detalhes. A sua homilia nos tirava o fôlego! As suas palavras chegavam a doer nas entranhas da nossa alma e íamos para casa em silêncio, batendo no peito, consternados. Era homilia longa, de 40 a 50 minutos. A igreja lotada, e o povo nem piscava. Teve um tempo em que gravávamos os seus sermões em fitas K7 e os transcrevíamos à mão, para meditar depois, pois pensávamos que nunca iríamos ouvir aquelas exortações em outro lugar.
A sua paróquia era sempre cheia, a gente tinha que chegar meia hora antes para conseguir se sentar. Os que estavam escalados para alguma tarefa chegavam mais cedo ainda.
Ele era exigente, para Deus tinha que ser o melhor: tudo impecável! Nada fora de lugar, nada em cima da hora, nada de qualquer jeito. Nenhuma florzinha murcha no altar, nenhuma toalha amassada, nenhum cisquinho no chão, nenhum canto sem ensaio, nenhuma leitura sem preparo e, de modo algum, nenhuma comunhão sem confissão.
Com relação aos nossos trabalhos voluntários, submetíamo-nos à sua instrução. Ele investia tempo em nos instruir e aceitávamos com alegria as suas orientações, porque víamos nele o zelo pelas coisas de Deus, queríamos ser zelosos como ele. Repetia sempre: "Eu não sou funcionário da igreja, eu sou um Padre! Vocês façam a sua parte e eu faço a minha". E funcionava, mas sempre sob a orientação dele, que supervisionava tudo bem de perto.
Sempre repetia que "Igreja não é ONG nem clube, nem lugar de passa-tempo. Aqui todos estamos reunidos em torno do altar do Senhor para sermos santos!", e nos orientava diariamente no tripé da santidade: Sacramentos, Oração e Sagradas Escrituras.
Aliás, ele nos ensinou a ler a Bíblia! Sim, no lugar dos folhetos, nós líamos a Bíblia nas missas. Cada um tinha a sua. Marido e mulher, duas biblias. Ele disponibilizava bíblias a preço acessível a todos, ninguém saía de casa sem levar a sua Bíblia da Ave Maria, toda surrada e marcada com caneta, debaixo do braço. Usávamos também nos grupos de oração, nas adorações, na catequese. As crianças também tinham as suas e sabiam encontrar rapidamente as leituras. A Bíblia era usada em todas as celebrações, por absolutamente todos os paroquianos.
E as confissões? Na Quaresma e no Advento, quando os padres do Setor se uniam para as confissões comunitárias, não havia espaço naquela igreja. Era uma correria para conseguir que pelo menos 20 padres viessem ajudar atender aquele povo - em torno de 600 pessoas, das 19 às 22h. Muita gente para pouco tempo. Foi ali que nasceu a Pastoral da Acolhida na Arquidiocese de Curitiba, por força das circunstâncias: não havia como atender tanta gente sem formar um grupo de apoio.
As missas eram vibrantes, participativas, os jovens se sentiam acolhidos, e também havia muitos casais jovens com crianças pequenas. Por isso nasceu também a Escolinha Dominical, um braço da Pastoral da Acolhida, para os pais que quisessem deixar seus pequenos de até 6 anos durante o período de missa.
Lá, as crianças ouviam historinhas e cantos lúdicos da Liturgia do dia, sob os cuidados de professoras com formação pedagógica que se ofereciam para ajudar. Elas preparavam as atividades durante a semana e traziam tudo pronto no domingo.
Tudo ali era 100%, todos davam o melhor de si e era por isso que funcionava, dava muitos frutos a olhos vistos! Todos gostavam muito de colaborar, cada qual com seus talentos e dons, tudo era feito com cautela, dedicação, dinâmica e muita alegria. Era envolvente! E éramos constantemente incentivados pelo padre, desde que... ninguém trocasse a missa pelo trabalho pastoral. Assim, a Escolinha Dominical funcionava somente durante a missa das 10, para que as voluntárias pudessem participar frutuosamente da missa das 8. Todos em estado de graça! Não tem como dar errado.
Assim também era a Secretaria Paroquial, que fechava as portas durante as celebrações. A missa era o ápice de tudo! Era o motivo de todos estarmos ali, nada era mais importante.
E quanto às rifas e festas paroquiais? Ele não as promovia, o que afastou alguns festeiros. Fazia apenas a festa anual do Padroeiro, sem visar lucro. Ele conseguiu a proeza de despertar na consciência dos paroquianos a pertença à igreja e a responsabilidade de cada um. Fazia isso sem falar em dízimo e dinheiro - nunca falou em dízimo nas missas! Os paroquianos confiavam nele, pois viam o rigor com que ele tratava os gastos da paróquia, e eram generosos. No caixa sempre havia provisão de sobra, mesmo em época de reformas. Os pedreiros, marceneiros, pintores, engenheiros, enfim, de várias profissões, se apresentavam para colaborar de alguma forma. Ele era criterioso e zeloso por cada centavo. Quando saiu dali, deixou um caixa gordo e um templo impecável: nada a construir, nada a reparar. Tudo na mais perfeita ordem, inclusive a Casa Paroquial.
Lembro que, uma vez ao ano, na quaresma, todas as pastorais se reuniam para limpar a igreja, cada qual na sua área: o estúdio dos músicos, cabos e microfones, as salas de catequese, gavetas, armários, arquivos, o salão dos jovens, as roupas e objetos de encenações, a sacristia, vestes, alfaias, os bancos da igreja, lustres, pisos, enfim, tudo! Não ficava um alfinete fora de lugar, tudo limpo. Era tempo de expurgo, de renovação, de conserto dos móveis danificados, de limpeza e reforma geral. E assim, na entrada da Semana Santa, a igreja perfumada reluzia!
Havia apenas uma diarista, que vinha somente uma vez na semana. É que não precisava, pois sempre havia voluntários que faziam questão de limpar a igreja nas segundas-feiras, como modo particular de adoração e ação de graças.
Era assim que aquela paróquia caminhava: na fé, na amizade, no compromisso, na obediência aos que detinham alguma autoridade, e, especialmente, na disponibilidade e alegria: tudo ali era uma festa!
Mas, como nunca se pode agradar a todos, volta e meia algum insatisfeito ia reclamar do padre ao Bispo, que na época era Dom Pedro Fedalto. Este, vendo que os frutos daquela pequena comunidade eram muitos e que até chamavam a atenção das comunidades vizinhas, dava de ombros às queixas.
O padre sempre nos exortava quanto ao chamado particular de cada um, de acordo com os seus dons, e sempre nos orientava a sermos dóceis ao Espírito que guia a Igreja: "Não busquem agradar aos homens, nem a si mesmos, mas busquem agradar a Deus! Dêem o seu melhor a Deus, e tudo acontecerá melhor do que imaginaríamos". E era assim que pessoas humildes realizavam obras grandiosas, e pessoas orgulhosas se ressentiam. Estávamos todos em processo de conversão, mas sabíamos que valia a pena. Nos deixávamos moldar, conduzidos pelas mãos de nosso diligente pastor: confissão, humildade, conversão.
Sei que algumas pessoas se afastaram dali por causa daquele padre que queria porque queria a nossa conversão e santificação. Mas os que ficaram e aceitaram o desafio, foram forjados, transformados. E são muitos! E deram muitos frutos, não apenas ali, mas em todos os lugares por onde passaram.
Trabalhei com ele - à luz de missas diárias - por 15 anos a fio, os últimos como coordenadora geral do CPP. Teria muito para contar, daria um bom livro! Devo o céu para esse padre, o "filho amado" que me pôs nos trilhos. Não fosse o seu pastoreio, insistência e severidade diante da minha cabeça-dura, eu nem estaria aqui para contar a história.
Aliás, por onde andará o Padre Renato Burigo? Certamente de joelhos em algum sacrário de nossos altares, a combater pela sua própria santificação.
Sede de Deus: Quando verei a face do Senhor?