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domingo, 13 de novembro de 2016

SOU VOSSA, PARA VÓS NASCI


Santa Teresa D'Ávila

Sou vossa, para Vós nasci:
Que mandais fazer de mim?
Soberana Majestade,
eterna Sabedoria,
Bondade que me sacia;
Deus, Alteza, um Ser, Bondade:
Olhai a grande maldade,
que vos canta amor assim:
Que mandais fazer de mim?
Sou vossa, pois me criastes;
vossa, pois me redimistes;
vossa, pois que me assististes;
vossa, pois que me chamastes.
Vossa, pois me conservastes,
vossa, pois não me perdi:
Que mandais fazer de mim?
Que mandais, pois, bom Senhor,
que faça tão vil criado?
Qual ofício haveis Vós dado
a este escravo pecador?
Eis-me aqui, meu doce amor;
amor doce, estou aqui:
Que mandais fazer de mim?
Eis aqui meu coração,
eu ponho-o na vossa palma:
minha vida, corpo e alma,
e entranhas e afeição.
Doce Esposo e Redenção,
se por vossa me ofereci:
Que mandais fazer de mim?
[Dai-me morte, dai-me vida;
saúde ou enfermidade,
honra ou desonra, à vontade;
dai-me guerra ou paz crescida,
fraqueza ou força cumprida,
que a tudo digo que sim:
Que quereis fazer de mim?]
Dai-me riqueza ou pobreza,
consolo ou mágoa sem fim,
dai-me alegria ou tristeza,
dai-me inferno ou dai-me o céu,
doce vida, sol sem véu:
pois de todo me rendi:
Que mandais fazer de mim?
Se quereis, dai-me oração;
se não, dai-me frialdade,
se abundância e devoção,
se não esterilidade.
Soberana Majestade,
só encontro paz aqui:
Que mandais fazer de mim?
Dai-me, pois, sabedoria,
ou, por amor, ignorância;
dai-me anos de abundância,
ou de fome e carestia.
Dai-me treva ou claro dia,
castigai-me aqui e ali:
Que mandais fazer de mim?
Se quereis ver-me folgando,
por amor quero folgar;
se me mandais trabalhar,
quero morrer trabalhando:
dizei onde, como e quando;
dizei, doce Amor, enfim:
Que mandais fazer de mim?
Dai-me Calvário ou Tabor,
deserto ou terra viçosa;
seja eu Job na minha dor,
João que ao peito repousa;
vinha estéril ou frutuosa,
se tem que ser mesmo assim:
Que mandais fazer de mim?
Seja eu José na prisão
ou no Egipto elevado,
David na expiação
ou já David exaltado.
Seja Jonas afogado,
ou libertado dali:
Que mandais fazer de mim?
Faça fruto ou não o faça,
sempre em silêncio ou falando,
mostre-me a lei minha chaga,
goze de Evangelho brando;
esteja em pena ou gozando,
Vós somente em mim vivi:
Que mandais fazer de mim?
Sou vossa, para Vós nasci:
Que mandais fazer de mim?

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

ORGULHO DE SER O QUE SE É

Sentada num banco de praça, eu observava as pessoas que passavam. Todas pareciam sentir orgulho de alguma coisa. Observando os casais, percebi que alguns homens se orgulham de uma esposa bonita; outros, de uma esposa inteligente; outros; de suas namoradas estilosas; outros, de suas amantes; outros, dos seus mais de 50 anos de casados; outros, de seus cabelos brancos.

Vi alguns homens que se orgulham de passar a tarde num banco de praça;
vi algumas mulheres que se orgulham de suas compras e do seu novo visual.

Vi algumas pessoas orgulhosas por estarem com pressa;
vi outras orgulhosas por terem todo o tempo do mundo.


E passei a pensar.

Há algumas pessoas que se orgulham de suas casas magníficas; 
outras, de uma TV nova; 
outras, de uma casa na praia e uma vida tranquila.

Algumas pessoas se orgulham de serem conhecidas como batalhadoras; 
outras, de serem oportunistas e espertas.

Muitos jovens se orgulham de terem passado num vestibular; 
outros, de gazearem aula. 

Uns se orgulham de construir; 
outros, de derrubar.

Muitos jovens se orgulham de serem trabalhadores; 
outros, de serem “pegadores”.  

Uns se orgulham de serem contra o sistema; 
outros se orgulham de serem a favor.

Alguns jovens se orgulham de chegarem a uma universidade por seu próprio esforço, andando a pé, na chuva ou no frio, todos os dias, para estudar; 
outros se orgulham de suas armas e assim terem o poder nas mãos.

Muitos jovens se orgulham de não usarem drogas; 
outros se orgulham de usá-las até o limiar da morte.

Algumas meninas se orgulham de sua virgindade; 
outras, de sua promiscuidade.

Alguns jovens se orgulham de serem filhinhos-de-papai e terem um apartamento só seu para morar;
outros, de serem independentes e de sofrerem muito para ganhar a vida.

Algumas pessoas se orgulham de morarem na cidade; 
outras, de terem um sítio para plantar.

Muitas pessoas se orgulham de seus carros, motos ou bicicletas; 
outras, de caminharem ou pedalarem por quilômetros a fio, apenas para manterem seu físico em dia.

Algumas pessoas se orgulham de sua religiosidade; 
outras se orgulham de seu ateísmo.

Algumas mulheres se orgulham de sua profissão numa empresa; 
outras, de sua integral dedicação ao lar.

Alguns se orgulham de seu trabalho árduo; 
outros, de não precisarem trabalhar tanto.

Algumas pessoas se orgulham de dizerem verdades e de serem íntegras; 
outras se orgulham quando mentem e conseguem fazer alguém de bobo. 

Alguns se orgulham de devolverem um troco a mais que receberam por engano; 
outros se orgulham de colocarem o troco no bolso sem ninguém ter visto.

Muitas pessoas se orgulham de saberem cozinhar e oferecer aos amigos saborosos pratos; 
outras tantas se orgulham de serem voluntariosas, solidárias, disponíveis para ajudar a quem precisa.  

Alguns se orgulham de sua profissão; 
outros, de seus passatempos.

Pessoas saudáveis se orgulham de sua saúde; 
pessoas doentes, de sua resistência.

Muitas pessoas se orgulham de sua intelectualidade;
outras se orgulham de sua simples sabedoria.

Alguns gramáticos se orgulham de flexionarem o verbo precedido de preposição;
outros se orgulham de escrever de modo que soe bem aos ouvidos.

Algumas pessoas se orgulham de falarem inglês fluentemente; 
outras se orgulham de escreverem o português corretamente; 
outras, de saberem se expressar, apenas; 
e outras, de saberem silenciar.

Algumas pessoas se orgulham de saberem economizar e guardar dinheiro; 
outras se orgulham de poderem esbanjar. 

Algumas pessoas se orgulham de saberem vender; 
outras, de poderem comprar.

Algumas pessoas se orgulham de terem uma linda voz; 
outras, de ouvirem boas músicas.

Algumas pessoas se orgulham de terem aprendido muitas coisas; 
outras, de as terem esquecido.

Muitas pessoas se orgulham de nunca terem fumado; 
outras se orgulham de fumar; 
e outras, de terem largado o vício.

Idosos se orgulham de seu passado.

Crianças se orgulham de seus brinquedos, de suas notas na escola e de seus pais.

Esposas se orgulham de suas roupas, de seus cabelos, seus esmaltes e perfumes, de seus quitutes, de seus filhos e de sua casa.  

Maridos se orgulham de suas mulheres, de seus filhos, de seu trabalho, de seus bens e de seus amigos.

Homens e mulheres se orgulham de sua família, e de serem vencedores em algum aspecto da vida.

E todos se orgulham de estarem próximos da felicidade. No Natal, todos se dão as mãos, cantam canções de esperança e prometem ser melhores no ano que vem: “Neste ano, quero paz no meu coração; quem quiser ser meu amigo, que me dê a mão”.