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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O Nascimento de Jesus no Tempo e na História


Deus, nosso Criador, é o Criador também do Tempo. Ele o criou naqueles dias em que fez a noite e o dia, a lua e as estrelas e deu órbita aos planetas. O Tempo é que nos dá condições, através da nossa inteligência, de organizar a nossa vida e assim crescer, estudar, trabalhar, casar, ter filhos e interagir com os nossos irmãos pelas virtudes da fé, da esperança e do amor, para a nossa subsistência e para a finalidade principal que é santificação de todos, na subida dos degraus da perfeição a caminho da eternidade. Sim, Deus nos criou para a eternidade.

Fomos criados para a santidade, à Sua imagem, e livres. Porém,  tão logo nos demos conta dessa liberdade, entregamo-nos ao pecado, ao orgulho de sermos donos de nosso próprio nariz, e passamos a comandar a nossa vida do nosso jeito, esquecendo-nos do nosso Criador. Ele nos criou para a vida, e nós escolhemos a morte.

Em diversos Tempos da História, Deus, vendo que cavávamos a nossa própria sepultura, tentou nos avisar “como a coisa funciona” enviando-nos inúmeros profetas para nos explicar, mas não adiantou muito. O nosso pecado não nos deixava ver nem compreender como essa subida aos céus era possível, e nem de que maneira isso acontecia.

Então Deus concluiu que era preciso tirar o pecado do mundo. Ele queria se comunicar com os homens, queria estar no meio deles, mas o nosso pecado era um entrave, um obstáculo que nos separava do Criador.  Para eliminar de vez esse pecado que tanto nos atormenta e que tanta destruição traz às criaturas, Ele teve uma brilhante ideia: desceu à Terra, em Pessoa, como quem diz: “Eu vou ver isso in loco” 

Assim, Deus se fez carne e habitou entre nós. Ele, o Verbo, o Autor da Criação, se fez homem, e da maneira mais independente possível. Não precisou de muita coisa. Apenas uma estrebaria, um homem e uma Mulher, que fora criada por Ele mesmo para esta única finalidade: ser Mãe de seu Filho, Mãe do Verbo Encarnado, a Sua Mãe. Para este fim Ele a criou sem pecado, Imaculada.

E assim nasceu Jesus Cristo, dentro do Tempo e da História. Sendo Deus, humilhou-se e nasceu em tudo semelhante ao homem, menos no pecado. Cresceu, aprendeu, leu, observou, estudou, conheceu as pessoas de perto, viu as suas limitações, visitou as famílias, chorou pela morte de seu amigo Lázaro – pois a morte não estava no Seu projeto -, e foi explicando a todos, de várias maneiras e tim-tim por tim-tim, como é que “a coisa funciona”.  Percebeu que o pecado nos obscurecia o entendimento, e teve bastante dificuldade em se fazer entender.

Jesus – que é Deus -, ao ver que o pecado havia tomado conta de todos, teve compaixão e se ofereceu pela redenção de cada um. Ele, o Senhor do Tempo, resolveu dar a sua vida, de uma vez por todas, levando consigo o pecado da humanidade.  Porém, Ele percebeu que a maioria das pessoas não aceitava a sua proposta. O pecado ficara tão encalacrado nas almas a ponto de deformá-las, tornando-as até inimigas de seu Criador.

Mesmo assim Ele não desistiu. Institui a sua Igreja, para que ela fosse a continuadora da propagação da Boa Nova e também para que Ela O revelasse, sempre em tempo presente, e assim encerrou a Sua vida numa Cruz, no Tempo e na História. Ali Ele completou a obra da salvação, oferecendo-se pela redenção da Humanidade. Como Ele é o Senhor do Tempo, a sua Paixão, Morte e Ressurreição valeram de uma vez só para a salvação de todos, desde a criação do mundo até a consumação dos séculos, ou seja, pelos meus antepassados e todos meus netos, bisnetos, até o final dos tempos.

Ele se foi, mas deixou na Sua Igreja o seu Corpo e Sangue em forma de pão e vinho, à disposição de quem O quiser encontrar. Ele, o Senhor do Tempo, quis assim “entrar” na alma de cada uma de suas criaturas, e a partir dali, iniciar um trabalho de purificação, a fim de retomar o diálogo e fazer das suas criaturas pontos de Luz aos demais, para que, no final das contas, todos alcancem a salvação proposta e cheguem, enfim, à vida eterna para a qual foram criados.

Assim, Deus deu o seu único Filho pela redenção da humanidade. Dentro do Tempo e da História, morreu na Cruz pelos pecados de todos.  

Este mesmo Deus que nasceu no Tempo e na História, e que é o Senhor do Tempo, é o mesmo que nasce neste dia 25 de dezembro de 2011. Não que Ele nasça “novamente”, mas o seu nascimento é perene e acontece a cada minuto, desde aquele dia em Belém.  A cada Natal, Jesus “nasce” novamente no meu e no seu coração, pela ação litúrgica da Igreja no Tempo do Natal. Somente a Sua Igreja pode tornar possível este mistério.  Nenhum homem conseguiria tamanha proeza!

Por isso, meus caros amigos, o Natal é um acontecimento histórico passado e, ao mesmo tempo, presente. Através da Igreja o nascimento do Menino Jesus se atualiza na vida de cada um de nós. Se tivéssemos olhos para ver através do Tempo, poderíamos contemplar o nascimento real de Jesus HOJE, e, como os reis magos, ajoelharmo-nos diante da Sua Presença, em adoração e ação de graças.


Com os olhos da fé, dobremos a nossa cerviz diante do humilde Senhor, tão frágil numa manjedoura: é o Deus vivo e verdadeiro que nasce para nos dar a vida, e vida em abundância!

Um Feliz Natal a todos!

Raquel

domingo, 18 de dezembro de 2011

A ORAÇÃO DA IGREJA

SACRÁRIO VIVO

Quando recebemos a Eucaristia, recebemos a presença real de Jesus Cristo em nossos corações. Tornamo-nos então, por alguns minutos, como Maria: um Sacrário vivo!, e deveríamos fazer genuflexão uns diante dos outros, reverenciando a Presença Trinitária dentro de cada um de nós!

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O NATAL DO POBRE

Dom Eugenio Sales, arcebispo emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro

Embora paganizado por muitos, o Natal oferece extraordinária riqueza espiritual. Desvirtuado por falsas comemorações, ainda é fonte de lições e bênçãos abundantes. “Mesmo quem não se professa crente pode sentir nesta celebração cristã anual algo de extraordinário e de transcendente, algo de íntimo que fala ao coração. É a festa que canta o dom da vida” (Bento XVI, Audiência Geral, 17/12/2008).

Os homens se revoltam e deturpam o plano de Deus, mas não o atingem. Morrem, e Ele permanece. Subsistem os que lhe são fiéis. Assim, nos festejos natalinos, em meio às distorções, perdura a beleza do nascimento de Cristo e seu significado.

A apresentação da gruta de Belém, multiplicada nos presépios, o conhecimento do fato histórico e suas circunstâncias, avultam a existência de uma pobreza extrema. “E deu à luz seu filho primogênito e, envolvido em faixas, reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7).

Em nossos dias, repete-se o ocorrido há mais de 2 mil anos. O pobre virou mercadoria, pois a miséria é utilizada para justificar posições sócio-políticas e ideológicas. Não dar abrigo ao Menino e aproveitar dessa forma o desvalido encobre, em ambos os casos, o desrespeito à Mensagem do Natal.

Fala-se em opção por “uma Igreja dos pobres”. A expressão é ambígua. Se tomada como um paradigma – eles, como sinal divino, os preferidos do Senhor – está correta. Mas não é raro sua manipulação para propagar um conceito classista na comunidade eclesial, alheio a mais lídima concepção do cristianismo.

Assim, a preferência pelo empobrecido é, no fundo, a aversão ao rico, a escolha de um determinado sistema econômico que leva a propagar até uma luta de classes, o oposto à comunhão pregada pelo Salvador.

O injustiçado vem a ser um instrumento para atingir objetivos nada evangélicos. Manipula-se até a Sagrada Escritura: o Êxodo, por exemplo, é interpretado à luz de uma ideologia alheia à pureza da Revelação.

A defesa do oprimido serve, por vezes, para forjar uma pregação e atitudes contrárias aos ensinamentos do Presépio.

A caridade que atende o necessitado é julgada com desconfiança, pois seu exercício protela a mudança de estruturas. No entanto, é um crime deixar alguém ficar na miséria para o apressamento de uma “revolução” que levaria a uma utópica igualdade futura. A isso rotula-se de “autenticidade cristã” ou “cristianismo social”.

O mesmo acontece com uma certa defesa dos direitos humanos quando se circunscreve a interesses bem definidos e escusos. Os demais são entregues ao esquecimento, geralmente pobres e sem rendimento em favor de propósitos ideológicos. E a lista poderia continuar. Sempre subjaz uma hipocrisia.

O quadro do Presépio faz refletir. Diante da gruta, vamos nos despir de uma roupagem fingida e verificar se nós aderimos realmente à sua Doutrina e nos conservamos fiéis à Mensagem evangélica. Ou se, talvez em boa fé, estamos sendo utilizados para outros objetivos.

Quando falamos em pobre, lutamos em nome de Cristo, por seus preferidos ou emprestamos a essa causa propósitos alheios ao Menino de Belém?

Reagimos contra o emprego do Natal como propaganda comercial. Combatemos o consumismo que leva ao paradoxo de uma multidão que padece de fome e uma minoria que esbanja fortunas. Ao condenar essa diferença, muitos se esquecem que também estão profanando o recém-nascido, quando utilizam a pobreza como mercadoria para propagar suas ideias.

O Presépio nos prega uma radical opção, uma fidelidade que exige muito de nós, inclusive o sacrifício da popularidade.

Recordemos as palavras do santo padre Bento XVI: “Para procurar abrir o coração a esta verdade que ilumina toda a existência humana, é necessário humilhar a mente e reconhecer o limite da nossa inteligência. Na gruta de Belém, Deus mostra-se-nos como humilde ‘menino’ para derrotar esta nossa soberba. Talvez nos teríamos rendido mais facilmente diante do poder, diante da sabedoria; mas Ele não quer a nossa rendição; pelo contrário, faz apelo ao nosso coração e à nossa livre decisão de aceitar o seu amor. Fez-se pequeno para nos libertar daquela humana pretensão de grandeza, que brota da soberba; encarnou-se livremente para nos tornar deveras livres, livres para o amar” (idem).

O Nascimento de Cristo resulta do cumprimento integral de uma missão recebida: tem início no Presépio a Redenção. Nestes dias, vamo-nos questionar sobre nossa obediência às lições que emanam da manjedoura de Belém. Assim, teremos um Natal de paz, tranquilidade, rico das bênçãos do Senhor.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

14 de dezembro: SÃO JOÃO DA CRUZ


CATEQUESE DE BENTO XVI


São João da Cruz

Queridos irmãos e irmãs,

duas semanas apresentei a figura da grande mística espanhola Teresa de Jesus. Hoje gostaria de falar de outro importante santo daquelas terras, amigo espiritual de santa Teresa, reformador com ela da família religiosa carmelita: são João da Cruz, proclamado Doutor da Igreja pelo Papa Pio xi em 1926, e chamado na tradição Doctor mysticus, «Doutor místico».

João da Cruz nasceu em 1542 no povoado de Fontiveros, perto de Ávila, na Velha Castela, de Gonzalo de Yepes e Catalina Alvarez. A família era extremamente pobre porque o pai, de nobre origem de Toledo, tinha sido expulso de casa e deserdado por ter casado com Catalina, uma humilde tecelã de seda. Órfão de pai em tenra idade, com nove anos, transferiu-se com a mãe e o irmão Francisco para Medina del Campo, perto de Valladolid, centro comercial e cultural. Ali frequentou o Colegio de los Doctrinos, desempenhando também alguns trabalhos humildes para as irmãs da igreja-convento da Madalena. Em seguida, considerando as suas qualidades humanas e os seus resultados nos estudos, foi admitido primeiro como enfermeiro no Hospital da Conceição, depois no Colégio dos Jesuítas, recém-fundado em Medina del Campo: ali João entrou com dezoito anos e estudou ciências humanas, retórica e línguas clássicas durante três anos. No final da formação, ele viu claramente qual era a sua vocação: a vida religiosa e, entre as muitas ordens presentes em Medina, sentiu-se chamado ao Carmelo.

No Verão de 1563 começou o noviciado com os Carmelitas da cidade, assumindo o nome religioso de João de São Matias. No ano seguinte foi destinado à prestigiosa Universidade de Salamanca, onde por três anos estudou artes e filosofia. Em 1567 foi ordenado sacerdote e voltou a Medina del Campo para celebrar a sua primeira Missa circundado pelo carinho dos familiares. Precisamente ali teve lugar o primeiro encontro entre João e Teresa de Jesus. O encontro foi decisivo para ambos: Teresa expôs-lhes o seu plano de reforma do Carmelo também no ramo masculino da Ordem e propôs a João que se adaptasse «para maior glória de Deus»; o jovem sacerdote ficou fascinado pelas ideias de Teresa, a ponto de se tornar um grande defensor do projecto. Os dois trabalharam juntos alguns meses, compartilhando ideais e propostas para inaugurar quanto antes possível a primeira casa de Carmelitas Descalços: a abertura ocorreu a 28 de Dezembro de 1568 em Duruelo, lugar solitário da província de Ávila. Com João formavam esta primeira comunidade masculina reformada outros três companheiros. Ao renovar a sua profissão religiosa segundo a Regra primitiva, os quatro assumiram um novo nome: Então, João denominou-se «da Cruz», como depois será conhecido universalmente. No final de 1572, a pedido de santa Teresa, tornou-se confessor e vigário do mosteiro da Encarnação em Ávila, onde a santa era priora. Foram anos de estreita colaboração e amizade espiritual, que a ambos enriqueceram. A esse período remontam inclusive as mais importantes obras teresianas e os primeiros escritos de João.

A adesão à reforma carmelita não foi fácil, e causou a João também graves sofrimentos. O episódio mais traumático foi, em 1577, o seu rapto e aprisionamento no convento dos Carmelitas de Antiga Observância de Toledo, devido a uma acusação injusta. O santo permaneceu preso durante meses, submetido a privações e constrições físicas e morais. Ali compôs, além de outras poesias, o célebre Cântico espiritual. Finalmente, na noite entre 16 e 17 de Agosto de 1578, conseguiu fugir de modo aventuroso, refugiando-se no mosteiro das Carmelitas Descalças da cidade. Santa Teresa e os companheiros reformados celebraram com imensa alegria a sua libertação e, após um breve período de recuperação das forças, João foi destinado para a Andalusia, onde transcorreu dez anos em vários conventos, especialmente em Granada. Assumiu cargos cada vez mais importantes na Ordem, até se tornar Vigário provincial, e completou a redacção dos seus tratados espirituais. Depois, voltou para a sua terra natal, como membro do governo geral da família religiosa teresiana, que já gozava de plena autonomia jurídica. Habitou no Carmelo de Segóvia, desempenhando a função de superior daquela comunidade. Em 1591 foi eximido de qualquer responsabilidade e destinado à nova Província religiosa do México. Enquanto se preparava para a longa viagem com outros dez companheiros, retirou-se num convento solitário perto de Jaén, onde adoeceu gravemente. João enfrentou com serenidade e paciência exemplares enormes sofrimentos. Falceu na noite entre 13 e 14 de Dezembro de 1591, enquanto os irmãos de hábito recitavam o Ofício matutino. Despediu-se deles, dizendo: «Hoje vou cantar o Ofício no Céu». Os seus restos mortais foram trasladados para Segóvia. Foi beatificado por Clemente x em 1675 e canonizado por Bento XIII em 1726.

João é considerado um dos mais importantes poetas líricos da literatura espanhola. As obras principais são quatro: Subida ao Monte Carmelo, Noite obscura, Cântico espiritual e Chama de amor viva.

No Cântico espiritual, são João apresenta o caminho de purificação da alma, ou seja, a posse progressiva e jubilosa de Deus, até que a alma chegue a sentir que ama a Deus com o mesmo amor com que é por Ele amada. A Chama de amor viva continua nesta perspectiva, descrevendo mais pormenorizadamente o estado de união transformadora com Deus. A comparação utilizada por João é sempre a do fogo: assim como o fogo, quanto mais arde e consome a madeira, tanto mais se torna incandescente até se tornar chama, também o Espírito Santo, que durante a noite obscura purifica e «limpa» a alma, com o tempo ilumina-a e aquece-a como se fosse uma chama. A vida da alma é uma festa contínua do Espírito Santo, que deixa entrever a glória da união com Deus na eternidade.

A Subida ao Monte Carmelo apresenta o itinerário espiritual sob o ponto de vista da purificação progressiva da alma, necessária para escalar a montanha da perfeição cristã, simbolizada pelo cimo do Monte Carmelo. Tal purificação é proposta como um caminho que o homem empreende, colaborando com a obra divina, para libertar a alma de todo o apego ou afecto contrário à vontade de Deus. A purificação, que para alcançar a união com Deus deve ser total, começa a partir daquela da vida dos sentidos e continua com a que se alcança por meio das três virtudes teologais: fé, esperança e caridade, que purificam a intenção, a memória e a vontade. A Noite obscura descreve o aspecto «passivo», ou seja, a intervenção de Deus neste processo de «purificação» da alma. Com efeito, o esforço humano sozinho é incapaz de chegar às profundas raízes das más inclinações e hábitos da pessoa: só os pode impedir, mas não consegue erradicá-los completamente. Para o fazer, é necessária a acção especial de Deus, que purifica radicalmente o espírito e o dispõe para a união de amor com Ele. São João define «passiva» tal purificação, precisamente porque, embora seja aceite pela alma, é realizada pela obra misteriosa do Espírito Santo que, como chama de fogo, consome toda a impureza. Neste estado, a alma é submetida a todo o tipo de provações, como se se encontasse numa noite obscura.

Estas indicações sobre as obras principais do santo ajudam-nos a aproximar-nos dos pontos salientes da sua vasta e profunda doutrina mística, cuja finalidade é descrever um caminho seguro para alcançar a santidade, a condição de perfeição à qual Deus chama todos nós. Segundo João da Cruz, tudo o que existe, criado por Deus, é bom. Através das criaturas, nós conseguimos chegar à descoberta daquele que nelas deixou um vestígio de Si. De qualquer modo, a fé é a única fonte confiada ao homem para conhecer Deus como Ele é em si mesmo, como Deus Uno e Trino. Tudo o que Deus queria comunicar ao homem, disse-o em Jesus Cristo, a sua Palavra que se fez carne. Jesus Cristo é o único e definitivo caminho para o Pai (cf. Jo 14, 6). Qualquer coisa criada nada é em comparação com Deus, e nada vale fora dele: por conseguinte, para alcançar o amor perfeito de Deus, todos os outros amores devem conformar-se em Cristo com o amor divino. Daqui deriva a insistência de são João da Cruz sobre a necessidade da purificação e do esvaziamento interior para se transformar em Deus, que é a única meta da perfeição. Esta «purificação» não consiste na simples falta física das coisas ou do seu uso; o que torna a alma pura e livre, ao contrário, é eliminar toda a dependência desordenada das coisas. Tudo deve ser inserido em Deus como centro e fim da vida. Sem dúvida, o longo e cansativo processo de purificação exige o esforço pessoal, mas o verdadeiro protagonista é Deus: tudo o que o homem pode fazer é «dispor-se», estar aberto à obra divina e não lhe pôr obstáculos. Vivendo as virtudes teologais, o homem eleva-se e valoriza o próprio compromisso. O ritmo de crescimento da fé, da esperança e da caridade caminha a par e passo com a obra de purificação e com a união progressiva com Deus, até se transformar nele. Quando alcança esta meta, a alma imerge-se na própria vida trinitária, e são João afirma que ela consegue amar a Deus com o mesmo amor com que Ele a ama, porque a ama no Espírito Santo. Eis por que motivo o Doutor místico afirma que não existe verdadeira união de amor com Deus, se não culmina na união trinitária. Neste estado supremo a alma santa conhece tudo em Deus e já não deve passar através das criaturas para chegar a Ele. A alma já se sente inundada pelo amor divino e alegra-se completamente nele.

Caros irmãos e irmãs, no fim permanece esta pergunta: com a sua mística excelsa, com este árduo caminho rumo ao cimo da perfeição, este santo tem algo a dizer também a nós, ao cristão normal que vive nas circunstâncias desta vida de hoje, ou é um exemplo, um modelo apenas para poucas almas escolhidas que podem realmente empreender este caminho da purificação, da ascese mística? Para encontrar a resposta, em primeiro lugar temos que ter presente que a vida de são João da Cruz não foi um «voar sobre as nuvens místicas», mas uma vida muito árdua, deveras prática e concreta, quer como reformador da ordem, onde encontrou muitas oposições, quer como superior provincial, quer ainda no cárcere dos seus irmãos de hábito, onde esteve exposto a insultos incríveis e a maus tratos físicos. Foi uma vida dura, mas precisamente nos meses passados na prisão, ele escreveu uma das suas obras mais bonitas. E assim podemos compreender que o caminho com Cristo, o andar com Cristo, «o Caminho», não é um peso acrescentado ao fardo já suficientemente grave da nossa vida, não é algo que tornaria ainda mais pesada esta carga, mas é algo totalmente diferente, é uma luz, uma força que nos ajuda a carregar este peso. Se um homem tem em si um grande amor, este amor quase lhe dá asas, e suporta mais facilmente todas as moléstias da vida, porque traz em si esta grande luce; esta é a fé: ser amado por Deus e deixar-se amar por Deus em Cristo Jesus. Este deixar-se amar é a luz que nos ajuda a carregar o fardo de todos os dias. E a santidade não é uma obra nossa, muito difícil, mas é precisamente esta «abertura»: abrir as janelas da nossa alma, para que a luz de Deus possa entrar, não esquecer Deus, porque é precisamente na abertura à sua luz que se encontra a força, a alegria dos remidos. Oremos ao Senhor para que nos ajude a encontrar esta santidade, deixando-nos amar por Deus, que é a vocação de todos nós e a verdadeira redenção. Obrigado!



Saudação

Amados peregrinos de língua portuguesa: a todos saúdo cordialmente e recordo, com São João da Cruz, que a santidade não é privilégio de poucos, mas vocação a qual todo cristão é chamado. Por isso, exorto-vos a entrardes de modo sempre mais decidido no caminho de purificação do coração e da vida, para irdes ao encontro de Cristo. Somente nele jaz a verdadeira felicidade. Ide em paz!

© Copyright 2011 - Libreria Editrice Vaticana

domingo, 4 de dezembro de 2011

A grande farsa do aquecimento global (legendado - 1h16min)


Adaptação para o português: ANTONINO MARTINS (Recife, PE - Brasil)
Legendas embutidas por MARTINHO CARLOS ROST
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