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terça-feira, 29 de março de 2011

Papa Adriano VI - o Papa do tempo de Lutero - pede perdão

Papa Adriano VI, eleito em 1522, foi o Papa do tempo de Lutero. A reforma da Cúria Romana era-lhe uma condição prévia, que permitia salvar a Alemanha para a Igreja. O Papa não tinha nenhuma dúvida sobre quanto a causa de Lutero se beneficiava com os abusos que, em toda a parte, provinham, desde as mais altas instâncias eclesiásticas. Falou do assunto em sua primeira alocução consistorial. Por isso, no dia imediato à coroação, declarou nulas todas as expectativas a cargos que vagassem. Aboliu os cargos criados pelo seu predecessor. Cerceou, rigorosamente, a Corte Pontifícia e o aparelho administrativo. Mandou retirar-se do Vaticano o bando de literatos, artistas, músicos e chocarreiros. As milhares de petições eram examinadas com rigor quase pedantesco, para que nenhum indigno lograsse benefício eclesiástico, medidas essas que provocaram muitos rancores e hostilidades.

Em compensação, Adriano fazia tudo por conquistar o coração dos Alemães e por induzi-los à generosidade. Para a Dieta de Nuremberg (1522-1523) enviou Francisco Chieregati, que devia conseguir dos Príncipes Germânicos que ajudassem a Hungria contra os Turcos, e executassem o Edito de Worms. Em troca, o Papa adiantou uma contribuição que até então se desconhecera: confissão de culpa e promessa de reformar a Cúria Romana.

Na instrução do Legado, redigida pelo próprio Adriano, a qual representava o primeiro passo para a Contra-Reforma (Brandi), o Sumo Pontífice tomou sobre si a culpa da Igreja, que lhe estava confiada. Apresentou-se diante de Deus e dos homens a confessar, a prometer expiação e reparação e mandou falar ao povo alemão, nestes termos:

"Dirás que confessamos francamente que Deus permite esta perseguição de sua Igreja, por causa dos homens, especialmente por causa dos pecados dos sacerdotes e dos prelados. Certo é, pois, que a mão do Senhor não encurtou, de modo que ele não nos pudesse salvar, mas o pecado aparta-nos dele, fazendo com que não nos atenda. A Sagrada Escritura proclama, alto e bom som, que os pecados do povo têm sua fonte nos pecados do clero... Não ignoramos que também nesta Sé Apostólica, desde muitos anos, já ocorreram muitas coisas abomináveis: abusos em coisas espirituais, transgressões dos Mandamentos; sim, que tudo se transformou para pior. Que muito, pois, que a doença se transplantasse da cabeça aos membros, dos papas aos prelados? Todos nós, prelados e clérigos, nos arredamos do caminho da justiça, e desde muito não existia quem fizesse o bem, nem um sequer.

"Por este motivo, todos devemos dar honra a Deus e humilhar-nos diante d'Ele. Medite cada um de nós o motivo por que caímos, para antes nos julgarmos a nós mesmos e não sermos julgados por Deus, no dia da Sua cólera. Por isso, prometerás, em Nosso nome, que aplicaremos todo esforço a fim de que, em primeiro lugar, se faça a correção da Corte Romana, da qual todos esses males tiveram sua origem. Então, como daqui saiu a doença, também começará a recuperação da saúde.

"Tanto mais nos sentimos na obrigação de efetuar tal intento, quanto mais o mundo inteiro deseja semelhante reforma. Não aspiramos à dignidade papal, e preferimos findar nossos dias na solidão da vida privada. De bom grado teríamos recusado a tiara. Só o temor de Deus, a legitimidade da eleição e o perigo de um cisma moveram-nos a aceitar o sumo pontificado. Não queremos exercê-lo por paixão de mando, nem para locupletação de nossos parentes, mas para restituir à Santa Igreja, esposa de Deus, sua antiga formosura, para dar assistência aos oprimidos, para promover varões doutos e virtuosos, enfim, para fazer tudo quanto compete fazer a um bom pastor e verdadeiro sucessor de São Pedro. Contudo, ninguém se admire de não erradicarmos de uma vez todos os abusos, pois a doença é inveterada e multiforme. É preciso, pois, avançar passo a passo, e com os meios adequados remediar, em primeiro lugar, os males mais graves e mais perigosos, a fim de que uma reforma precipitada de todas as coisas não provoque maior confusão."

Foi nulo o efeito desta grandiosíssima confissão de culpa da Cúria Romana mundanizada. Ela ultrapassa, em sua clássica peremptoriedade, até o pedido de perdão que Paulo VI proferiu no Concílio Vaticano II.

Não quiseram executar o Edito de Worms. E Lutero, que naquela época escreveu sátiras sobre o Papa-Asno, zombava deste Papa, como se fosse tolo e ignorante, tirano hipócrita e anticristo. Frustrado em suas melhores intenções, o nobre Papa baixou à sepultura em setembro de 1523.
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G. Tüchle e C.A. Buuman. Nova História da Igreja, vol III. Reforma e Contra-Reforma, Editora Vozes. Cap. IV, pp 131-132.
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terça-feira, 15 de março de 2011

Mulher, este é o teu filho!

Por Raquel Nascimento Pereira

     "Depois que crucificaram Jesus, os soldados repartiram a sua roupa em quatro partes, uma para cada soldado. Quanto à túnica, esta era tecida sem costura, em peça única de alto a baixo. Disseram então entre si: Não vamos dividir a túnica. Tiremos a sorte para ver de quem será. Assim se cumpria a Escritura que diz: “Repartiram entre si as minhas vestes e lançaram sorte sobre a minha túnica”. Assim procederam os soldados.
     Perto da cruz de Jesus, estavam de pé a sua mãe, a irmã da sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: Mulher, este é o teu filho. Depois disse ao discípulo: Esta é a tua mãe." (João 19, 23-27)

Os exegetas entendem que, nesta hora, Jesus designa Maria como Mãe da Igreja. Quando ele diz a João: “Eis aí a tua mãe”, ele se refere a Maria como Mãe de toda a humanidade. E quando ele diz à sua mãe: “Eis aí o teu filho”, ele quer dizer que, em João, somos todos discípulos amados - já que somos irmãos em Jesus - todos filhos de Maria, Mãe da Igreja.

Uma outra reflexão se pode fazer neste caso. Maria estaria viúva. Não se encontra nenhuma referência sobre José acompanhar Jesus na sua vida pública, muito menos na sua Paixão. Entende-se, portanto, que Maria estivesse viúva e que Jesus, seu único filho, era o arrimo da família. Sendo assim, Jesus se preocupa com sua Mãe, não quer deixá-la sozinha. Sabe-se que naquela época as mulheres viúvas sofriam todo tipo de descaso. Muitas eram tidas como prostitutas, e outras tantas eram abandonadas por sua família. Passavam fome, frio, e muitas perdiam até suas casas. Vemos o quanto Jesus insistiu, nas suas pregações, que déssemos uma atenção especial “aos órfãos e às viúvas”.

Assim, faz a João – o discípulo que ele amava -  o seu último pedido, e o designa para cuidar de Maria. Quando diz a João: “Eis aí a tua mãe”, é como se dissesse: “Cuide dela como se fosse tua mãe, não a abandone”. Qualquer um de nós faria o mesmo numa circunstância dessas. E quando diz a Maria: “Eis aí o teu filho”, é como se dissesse: “Mãe, você não está sozinha. Olhe para João como você olha para mim. Ele cuidará de você. Cuide dele também, como você cuidou de mim”.

Voltando ao raciocínio dos exegetas, João, Maria (Mãe de Jesus), a irmã de Maria e Maria Madalena foram os únicos que ficaram aos pés da cruz de Jesus até o último instante. Então, se João representa a Igreja, isto é, todos nós, e se a Maria é dada a incumbência maternal desta Igreja, podemos imaginar: João foi o único discípulo que ficou até o fim. Todos os demais tiveram medo e abandonaram Jesus no momento mais crucial do seu sofrimento. Até Pedro - a quem foi dada as chaves da Igreja - negou Jesus três vezes e não o vemos na cena da crucifixão.

No entanto, João estava ali, dando-nos  o exemplo de que é possível. Ficou ao lado de Maria até o fim, mostrando a nós todos – Igreja – que, aconteça o que acontecer, devemos ir até o fim. Maria estará conosco em todos os momentos, cuidando de todos nós com aquele amor de mãe, aquele mesmo amor com que amou Jesus, seu Filho, com que amou João.

Jesus ressuscita Lázaro
E aqueles três irmãos: Marta, Maria e Lázaro (aquele que Jesus ressuscitara), onde eles estavam? Não eram tão amigos do “Mestre”? Jesus não fazia refeições na casa deles? Penso até que ele deveria dormir lá de vez em quando...

Quando Lázaro morreu, Jesus estava longe. Marta correu para encontrá-lo, dizendo-lhe, numa demonstração de fé: “Meu irmão está morto! Se você estivesse conosco, ele não teria morrido!” Jesus foi ao encontro de Lázaro e... ao encontrá-lo morto, chorou. Era seu amigo, gostava dele, e sofreu com a sua morte, porque o homem foi criado para a vida! Jesus o trouxe de volta à vida... ressuscitando-o. (João 11)

Mas Lázaro não estava ali, aos pés da cruz. Nem Marta, nem sua irmã Maria. Seguiram Jesus até certo ponto. Mas depois, voltaram. É bem assim que procedemos quando temos interesse nos favores de Jesus, quando queremos que ele nos ajude. Depois do milagre recebido, quando fica mais difícil segui-lo, damos meia volta e o deixamos para trás.

Quanto à túnica que Jesus vestia, aquela “túnica tecida sem costura, em peça única de alto a baixo”, aquela túnica que os soldados lançaram a sorte sobre ela, para saber quem a levaria para casa... posso imaginar Maria a tecendo. Teria medido a altura de seu Filho, do ombro aos pés, do ombro ao punho, o decote do pescoço...  e, com todo aquele amor de Mãe – um amor pleno, perfeito, como nenhuma mãe teria amado – escolheu o melhor fio, a cor mais bonita e a teceu para Jesus. Como deveria ser linda aquela túnica!

O soldado que a ganhou, tendo-a levado para casa, o que teria sentido? Tudo havia acabado, todos já estavam recolhidos, porque era a preparação para a Páscoa. Ele teria chegado à sua casa com a túnica nas mãos, cansado, talvez eufórico ainda, e teria sentado numa cadeira, respirado fundo e olhado para aquela túnica, num momento único de reflexão profunda, repassando na sua mente toda aquela cena da morte de Jesus. O que ele teria pensado? Imagino que Jesus deva ter se manifestado também a ele, naquele momento de graça.
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domingo, 13 de março de 2011

Como ir à Missa e não perder a fé

Bux: “No campo litúrgico, estamos frente a uma desregulação insuportável”

ROMA, terça-feira, 8 de março de 2011 (ZENIT.org) - Um enfraquecimento da fé e a diminuição do número de fiéis poderiam ser atribuídos aos abusos litúrgicos e às Missas ruins, quer dizer, às que traem seu sentido original e onde, no centro, já não está Deus, mas o homem, com a bagagem de suas perguntas existenciais.
 
Essa é uma ideia sustentada por Nicola Bux, teólogo e consultor da Congregação para a Doutrina da Fé e do Ofício de Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice.

Apresentado em Roma no dia 2 de março, em seu livro "Come andare a Messa e non perdere la fede" [Como ir à Missa e não perder a fé, N. do T.], Bux lança-se contra a virada antropológica da liturgia.

Bux replica a quantos criticaram Bento XVI, acusando-o de ter traído o espírito conciliar. Ao contrário – argumenta o teólogo – os documentos oficiais do Concílio Vaticano II foram traídos precisamente por essas pessoas, bispos e sacerdotes à frente, que alteraram a liturgia com “deformações ao limite do suportável”.

Participar de uma celebração eucarística pode significar, de fato, também se encontrar perante as formas litúrgicas mais estranhas, com sacerdotes que discutem economia, política e sociologia, tecendo homilias em que Deus desaparece. Proliferam os ensaios de antropologia litúrgica até reduzir a esta dimensão os próprios sinais sacramentais, “agora chamados – denuncia Bux – preferivelmente de símbolos”. A questão não é pequena: enfrentá-la implica ser tachado de anticonciliar.

Todos se sentem com o direito de ensinar e praticar uma liturgia “ao seu modo”, tanto que hoje é possível assistir, por exemplo, “à afirmação de políticos católicos que, considerando-se ‘adultos’, propõem ideias de Igreja e de moral em contraste com a doutrina”.

Entre aqueles que iniciaram esta mudança, Bux recorda Karl Rahner, quem, à raiz do Concílio, denunciava a reflexão teológica então imperante que, em sua opinião, mostrava-se pouco atenta ou esquecida da realidade do homem.

O jesuíta alemão sustentava em contrapartida que todo discurso sobre Deus brotaria da pergunta que o homem lança sobre si mesmo. Em consequência – esta é a síntese – a tarefa da teologia deveria ser falar do homem e de sua salvação, lançando as perguntas sobre si e sobre o mundo. Um pensamento teológico que, com triste evidência, foi capaz de gerar erros, o mais clamoroso dos quais é o modo de entender o sacramento, hoje já não sentido como procedente do Alto, de Deus, mas como participação em algo que o cristão já possui.

“A conclusão que Häuβling tira disso – recuerda Bux – é que o homem, nos sacramentos, acabaria por participar de uma ação que não corresponde realmente a sua exigência de ser salvo”, já que abre mão da intervenção divina. A semelhante tese “sacramental” e à derivação anexa da liturgia, responde Joseph Ratzinger, que já no dorso do volume XI, “Teologia da Liturgia”, de sua Opera omnia, escreve: “Na relação com a liturgia se decide o destino da fé e da Igreja”.

A liturgia é sagrada, de fato, se tiver suas regras. Apesar disso, se por um lado o ethos, ou seja, a vida moral, é um elemento claro para todos, por outro lado, ignora-se quase totalmente que existe também um “jus divinum”, um direito de Deus a ser adorado. “O Senhor é zeloso de suas competências – sustenta Bux –, e o culto é o que lhe é mais próprio. Em contrapartida, precisamente no campo litúrgico, estamos frente a uma desregulação”.

Sublinhando, em contrapartida, que sem “jus” o culto torna-se necessariamente idolátrico, em seu livro o teólogo cita uma passagem da “Introdução ao espírito da liturgia”, de Ratzinger, que escreve: “Na aparência, tudo está em ordem e presumivelmente também o ritual procede segundo as prescrições. E no entanto é uma queda na idolatria (...), faz-se Deus descer ao nível próprio, reduzindo-o a categorias de visibilidade e compreensibilidade”.

E acrescenta: “trata-se de um culto feito à própria medida (...), converte-se em uma festa que a comunidade faz para si mesma; celebrando-a, a comunidade não faz mais que confirmar a si mesma”. O resultado é irremediável: “Da adoração a Deus se passa a um círculo que gira em torno de si mesmo: comer, beber, divertir-se”. Em sua autobiografia (Mi vida), Ratzinger declara: “Estou convencido de que a crise eclesial em que hoje nos encontramos depende em grande parte do colapso da liturgia”.
Para encerrar, uma sugestão e uma advertência. A primeira é relançar a liturgia romana “olhando para o futuro da Igreja – escreve Bux –, em cujo centro está a cruz de Cristo, como está no centro do altar: Ele, Sumo Sacerdote a quem a Igreja dirige seu olhar hoje, como ontem e sempre”. A segunda é inequívoca: “se acreditamos que o Papa herdou as chaves de Pedro – conclui –, quem não o obedece, antes de tudo em matéria litúrgica e sacramental, não entra no Paraíso”.

terça-feira, 1 de março de 2011

Negar a adoção a homossexuais não é discriminatório

Bispos colombianos afirmam que adotar não é um direito


BOGOTÁ, terça-feira, 1º de março de 2011 (ZENIT.org) - Os bispos da Colômbia expressaram-se contra a adoção de crianças por pares homossexuais, advertindo que adotar “não é um direito” e que portanto “não há discriminação”.

Em nota datada de 25 de fevereiro, os bispos afirmam que não consideram discriminatório “o fato de que o atual ordenamento jurídico nacional não contemple a possibilidade de que pares do mesmo sexo possam adotar crianças”.

Não é discriminatório porque “os requisitos para a adoção valem tanto para casais heterossexuais ou pares do mesmo sexo, tendo em conta o bem daquele que é adotado e suas necessidades, que antecedem às dos que adotam”.

A adoção – acrescenta a nota – “consiste em criar entre duas pessoas uma relação de filiação, quer dizer, uma relação jurídica e socialmente semelhante à que existe entre um homem e uma mulher e seus filhos biológicos”.

“Tal semelhança coloca em evidência não só o alcance jurídico e social da adoção, mas também seus próprios limites: o que a natureza permite, mas também o que a natureza impede, constitui o marco jurídico da adoção. Não é a Igreja nem o Estado nem a sociedade quem nega aos homossexuais a possibilidade de adotar, mas a própria natureza das coisas”.

O interesse do menor “é a motivação e o fundamento da adoção como figura jurídica”. A adoção “só pode ser definida no âmbito das necessidades e do respeito por quem é adotado”.

Em resumo – afirmam os bispos –, “a adoção não é um direito dos que querem adotar, sejam eles homossexuais ou heterossexuais, e por isso não se pode falar de violação de um direito fundamental”.
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