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domingo, 29 de novembro de 2015

VEM, SENHOR JESUS! (mas não hoje)

Hoje é dia 29 de novembro de 2015, Primeiro Domingo do Advento. Hoje iniciamos a nossa preparação para o Natal - Vem, Senhor Jesus!


Mas, o que significa esta exclamação? Queremos mesmo que Jesus venha restaurar todas as coisas? Estamos prontos para essa vinda de Jesus, para esse encontro definitivo?

Quando estas coisas começarem a acontecer,
erguei-vos e levantai a cabeça,
porque a vossa libertação está próxima.
Tende cuidado convosco,
não suceda que os vossos corações se tornem pesados
pela intemperança, a embriaguês e as preocupações da vida,

e esse dia não vos surpreenda subitamente como uma armadilha,
pois ele atingirá todos os que habitam a face da terra.
Portanto, vigiai e orai em todo o tempo,
para que possais livrar-vos de tudo o que vai acontecer
e comparecer diante do Filho do homem.
(Lucas, 21)


Há uma frase famosa que diz: “Viva o dia de hoje como se fosse o último dia de sua vida”. Ou seja, a vida é efêmera, passageira. Sabemos disso, ouvimos isso o tempo todo, mas só compreendemos essa verdade no decorrer dos nossos dias, conforme vamos amadurecendo, ou quando temos uma experiência de quase-morte.

No meu caso, em 27 de junho deste ano de 2015, no aniversário de um de meus filhos, eu poderia ter morrido por uma morte súbita de arritmia cardíaca, se não tivesse sido socorrida a tempo. Se eu tivesse falecido, qual seria a reação de minha família?

Num primeiro momento, aquela correria: documentação, roupas para sepultar, avisar o cemitério, avisar os padres, a Igreja, os parentes, colocar “LUTO” no Facebook para alertar os amigos, marcar velório e sepultamento, e chorar bastante. Depois, viriam para casa e sentiriam muita tristeza dentro dela.

Em seguida, tão logo fosse possível, distribuiriam as funções: quem faz o quê. Reuniriam minhas roupas para doá-las a alguma instituição. Distribuiriam meus livros e fotos entre si (talvez com alguns ressentimentos uns com outros), vasculhariam meu computador levando à Igreja a pasta “Santuário”, analisariam meus escritos um a um, separando o que fica e o que deleta, o que se aproveita e o que vai para o lixo e quem fica com o que. Teriam procurado minha pasta de senhas e deletado minhas contas no Google, Facebook, Skype, WhatsApp, Youtube, etc..., e também teriam avisado o Contador, encerrado minha conta na CEF e dado baixa no meu CPF. Pronto. Certidão de Óbito em mãos, tudo OK.

Na igreja, o Pároco lamentaria, dizendo que a Raquel era muito criativa, que fazia o Informativo, que organizou o Histórico do Santuário, etc e tal. Em seguida, sem mais delongas, talvez entrasse em contato com meu irmão para dar continuidade aos trabalhos gráficos e, tão logo fosse possível, proporia um substituto para a coordenação-geral do Santuário, porque os trabalhos precisam continuar. Alguns derramariam algumas lágrimas. Outros - e talvez a maioria - respirassem aliviados: "Enfim, ela se foi. Osso duro de roer, aquela Raquel", diriam.

E a vida continua. A esta hora, quem se lembrasse já estaria celebrando o meu 5º mês de falecimento.

Meus filhos, noras e netos continuariam se reunindo semanalmente nos seus cafés da tarde para conversar, como sempre fizemos durante a vida inteira, ao redor da mesa.  De vez em quando alguém lembraria de mim, de algum passeio, algum almoço, alguma oração que eu fazia, e ficaria emocionado. Mas logo o tropeço de uma criança chamaria a atenção de todos e o assunto “mãe” ficaria para trás.

É assim a vida, passageira. É assim que as coisas funcionam.

Se nós vivemos em função de comer e beber e de nos divertir “aproveitando tudo o que a vida tem de bom”, um dia tudo isso passa, e o que ficou realmente? As lembranças? De que servem as lembranças, se não houver nelas algo mais?

Por isso é que eu, pensando nessas coisas, procuro viver realmente como se fosse o meu último dia. Todas as noites eu me deito pensando se vou acordar. Assim, antes de me deitar, procuro deixar tudo em ordem, organizando papéis e documentos, jogando fora o que não uso, deixando tudo limpo e de fácil acesso. Chego ao extremo de me deitar com pijamas discretos, pensando em evitar constrangimentos, caso eu não desperte. Ao caminhar pela casa, aproveito para separar o que emprestei, a fim de devolver o quanto antes, e já levo tudo para o carro, para ser entregue na primeira oportunidade.

Faço os meus trabalhos até o final, não deixo nada para depois.  Durante o dia, todos os meus minutos são empregados com o propósito de fazer as minhas obrigações com amor, correspondendo ao que me pedem o mais rápido possível e da melhor maneira possível, e sempre em oração.  Assim, vivendo com o estritamente essencial, vivo em paz. Tenho mais tempo para a oração, mais tempo para o trabalho e... a casa organizada! Não tenho dívidas, não tenho pendências, vivo em paz.

Ainda antes de dormir (sem saber se será a última noite) fico repassando em minha mente: Eu amei?

- Amei meus irmãos como o mesmo amor de Jesus Cristo?
- Ou fui egoísta, pensando apenas no meu prazer e satisfação?

- Procurei me desenvolver no caminho do Senhor?
- Ou fui preguiçosa e gastei a vida que Deus me deu com ociosidades?

- Fiz tudo o que Deus me pediu?
- Ou deixei coisas importantes para trás por medo, por orgulho de me humilhar, por desconfiança ou mesmo por descaso?

- Fiz o meu trabalho com amor?
- Ou reclamava o tempo todo?

- Tive paciência com as pessoas?
- Ou procurava sempre impor minhas “verdades”?

- Coloquei Deus em primeiro lugar na minha vida?
- Ou o preferi o meu bem-estar, o meu sossego?

- Procurei desfazer mal-entendidos e ressentimentos?
- Ou fui orgulhosa e não abri meu coração ao outro?

A nossa vida verdadeira não é esta. Sim, existe outra vida, e é para lá que todos nós vamos. Vivemos neste mundo como se estivéssemos em gestação, na barriga de nossa mãe. Um dia sairemos pelo “túnel” e veremos a vida eterna como ela é. Por enquanto, daqui de dentro, percebemos alguns sinais do lado de lá. Mas ninguém voltou de lá para nos contar como é, senão Jesus Cristo. Cada um de nós fará a sua experiência pessoal. Certamente, como num parto, haverá quem nos acolha carinhosamente em Suas mãos. Certamente que será uma experiência maravilhosa, e penso mesmo que seja semelhante à do parto, algo de acelerar a adrenalina (acho que vou gostar!).

E para onde vamos? Como será a nossa vida fora desta gestação? 
Nós a escolhemos. Deus não mandaria uma pessoa que odeia Cristo para junto de Si. De maneira alguma! Deus nos criou livres, e respeita a nossa liberdade de escolha, essa escolha que só depende de nós. É aí que difere a nossa vida à vida dos bebês em gestação. Quando estávamos no ventre de nossa mãe, era-nos formado o corpo. Depois que nascemos para o mundo, é-nos formada a alma, a partir do nosso Batismo e, em seguida, das nossas escolhas. Quando a alma estiver pronta, não precisará mais do corpo. Parte livre, para a nova vida.

Quando chegar a minha hora, serei eu e Deus. Ninguém mais. Quem, dentre os vivos sobre esta Terra, poderá interceder em meu favor no dia do meu encontro com Deus? Que se celebrem muitas santas missas em sufrágio de minha alma, pois só mesmo o Cristo crucificado no sacrifício da santa missa pode redimir as almas imperfeitas, no purgatório. Que se rezem Terços por mim, pedindo a intercessão de Nossa Senhora. Ela, como Mãe de Deus, pode advogar em meu favor. E que presente seria se alguém fizesse, no dia 2 de novembro, uma Indulgência Plenária em meu favor! Sim, é o que podem fazer por esta pobre alma, que ama Jesus Cristo de todo o seu coração mas que sofre na miséria de seus pecados. Desejo tanto vê-lo face a face, um dia!

No mais, não haverá justificativas, não haverá pai, mãe, irmãos, filho ou filha, marido ou amigo que possa me defender diante de Deus nesse terrível momento. O que fiz, fiz. O que não fiz, não fiz, e ponto final.

Bora preparar o meu Natal. Disse o Padre, na homilia de hoje: "Pode ser o último Natal da sua vida!" Pois é. Então, como vou preparar o último Natal da minha vida? Decididamente não será como os anteriores. Sem tantos verdes e vermelhos, sem tantos perus e pernis, sem tantos panetones e pudins, sem tantos vinhos e cervejas. Apenas um Presépio. Um simples Presépio... vazio, aguardando Jesus que vem. Que assim seja também o meu coração. Vazio de si mesmo, vazio de pecados, vazio de orgulhos e presunções. Pobre e simples, como a manjedoura. Vem, Senhor Jesus!

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Sede misericordiosos

Papa Francisco nos chama à raiz do cristianismo, ao amor com que o próprio Jesus nos amou, ao extremo de doar a nossa vida pelos nossos irmãos até à morte, se preciso. Este é o resumo dos Evangelhos, é o que cada um de nós deveria fazer. Os tempos são difíceis, e levantar uma luz neste mundo de trevas chega a ser um ato heróico, um ato de santidade mesmo, que só é possível por Cristo, com Cristo e em Cristo. Fora dele não há como amar assim, tão eloquentemente, tão despojadamente, tão destemidamente.
Mas como amar assim, se nossos próprios corações estão machucados? Como sermos cristãos "em saída", se estamos nós do lado de fora? Como sermos misericordiosos, se os nossos corações estão fragmentados?
Por isso a necessidade de deixarmos para trás as mazelas, as discussões vãs, as acusações mútuas e buscar o que realmente interessa, ou seja, voltar o nosso olhar e coração para aquilo que nos faz cristãos de fato.
Por isso a necessidade de tornar a pertença ao catolicismo algo simples, sem perda de tempo com tantas burocracias e papeladas, até porque o tempo urge. Precisamos correr ao encontro do Senhor, como a Samaritana correu para anunciar o Cristo, como Maria foi às pressas visitar Isabel. Precisamos correr ao encontro do que realmente interessa, do que nos leva efetivamente à santidade.
Se pensarmos bem, a misericórdia é um ato que nem nos deveria ser pedido. Ela deveria brotar dos corações unidos ao Senhor como o galho brota da árvore, alimentando-se da sua seiva e dando o seu fruto. Se Francisco nos pede isso, é porque somos galhos secos, rachados ou mesmo quebrados. Afastamo-nos da seiva, que nos alimenta do Amor. Não somos um, e o Corpo místico de Cristo anda doente em seus membros. Então é preciso fazer esse exercício da misericórdia, para aprendermos a tratar uns dos outros, curando-nos uns aos outros. Quem sabe assim brote o amor em nossos corações, e quem sabe assim o Corpo de Cristo se eleve, saudável, para a redenção do mundo.