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sexta-feira, 14 de abril de 2017

A descida do Senhor à mansão dos mortos

De antiga Homilia no grande Sábado Santo (séc IV) - autor grego desconhecido.
– Da Liturgia das Horas – II Leitura do Sábado Santo.

Que está acontecendo hoje? Grande silêncio na terra. Grande silêncio e por isso solidão. Grande silêncio porque o Rei está dormindo: a terra atemorizou-se e calou, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos. Vai, antes de tudo, à procura de nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos.

O Senhor aproximou-se deles, empunhando a cruz vitoriosa. Ao vê-lo, Adão, nosso primeiro pai, cheio de espanto bate no peito e clama para todos: “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E com teu espírito”. E, segurando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e Cristo te iluminará.

Eu sou o teu Deus que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, digo agora e, no meu poder, ordeno aos que estavam nos grilhões: Saí!, e aos que estavam nas trevas: Enchei-vos de luz!, e aos entorpecidos: Levantai-vos! A ti ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres acorrentado na mansão dos mortos. Levanta-te dentre os mortos, eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.

Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua forma de escravo. Por ti, eu, que estou acima dos céus, vim à terra e até mesmo sob a terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, que jaz entre os mortos. Por ti, que deixaste o jardim, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim, crucificado.

Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro da vida. Vê as minhas faces esbofeteadas para restaurar, segundo a minha imagem, a tua beleza corrompida.

Vê em meus ombros a flagelação que suportei para retirar dos teus ombros os pesos dos pecados. Vê minhas mãos pregadas à árvore da cruz, para teu bem, como um dia estendeste a tua para o mal, na árvore do paraíso.

Adormeci na cruz e por tua causa a lança transpassou meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Sustive com a minha espada a que se voltava contra ti.

Levanta-te, vamos daqui. A ti o inimigo retirou da terra do paraíso; eu, porém, não volto a colocar-te no paraíso, mas num trono celeste. O inimigo arrebatou-te a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, me uni a ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; faço agora que eles te prestem a adoração devida a Deus.

Está preparado o trono dos querubins, alertas e a postos os mensageiros, disposto o tálamo e preparadas as iguarias; as mansões e os tabernáculos eternos estão adornados, abertos os cofres de todos os bens, e o reino dos céus foi preparado para ti antes dos séculos.”

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