De antiga Homilia no grande Sábado Santo (séc IV) - autor grego desconhecido.
– Da Liturgia das Horas – II Leitura do Sábado Santo.
Que está acontecendo hoje? Grande silêncio na terra. Grande
silêncio e por isso solidão. Grande silêncio porque o Rei está dormindo: a
terra atemorizou-se e calou, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os
que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.
Vai, antes de tudo, à procura de nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz
questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte.
Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos
sofrimentos.
Eu sou o teu Deus que por tua causa me tornei teu filho; por
ti e por aqueles que nasceram de ti, digo agora e, no meu poder, ordeno aos que
estavam nos grilhões: Saí!, e aos que estavam nas trevas: Enchei-vos de luz!, e
aos entorpecidos: Levantai-vos! A ti ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não
te criei para permaneceres acorrentado na mansão dos mortos. Levanta-te dentre
os mortos, eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos;
levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te,
saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.
Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu,
o Senhor, tomei tua forma de escravo. Por ti, eu, que estou acima dos céus, vim
à terra e até mesmo sob a terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem
apoio, que jaz entre os mortos. Por ti, que deixaste o jardim, ao sair de um
jardim fui entregue aos judeus e num jardim, crucificado.
Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te
o sopro da vida. Vê as minhas faces esbofeteadas para restaurar, segundo a
minha imagem, a tua beleza corrompida.
Vê em meus ombros a flagelação que suportei para retirar dos
teus ombros os pesos dos pecados. Vê minhas mãos pregadas à árvore da cruz,
para teu bem, como um dia estendeste a tua para o mal, na árvore do paraíso.
Adormeci na cruz e por tua causa a lança transpassou meu
lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor
do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Sustive com a minha
espada a que se voltava contra ti.
Levanta-te, vamos daqui. A ti o inimigo retirou da terra do
paraíso; eu, porém, não volto a colocar-te no paraíso, mas num trono celeste. O
inimigo arrebatou-te a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, me
uni a ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; faço agora que eles
te prestem a adoração devida a Deus.
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