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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

A MORAL CATÓLICA: A Veracidade

1. A veracidade

Veracidade é uma virtude moral que nos inclina a procurar a máxima conformidade entre nossos sentimentos e nossos atos exteriores, principalmente nas palavras que dirigimos ao próximo.

Quanto maior for a veracidade do cristão, tanto maior é a sua semelhança com Deus nosso Senhor: "Espontaneamente nos gerou Deus pela palavra da verdade, para que sejamos, por assim dizer, as primícias de suas criaturas" (Tiago 1, 18).

a) a veracidade é necessária para a consolidação da personalidade cristã, para o trato dos homens entre si, para a firmeza da sociedade humana.
b) A veracidade não exige que se diga tudo, indiscretamente, sem distinção de lugar, pessoas e circunstâncias. A prudência manda combinar a veracidade com as virtudes da discrição e do silêncio.

Desde que tenha noção das coisas, a criança deve aprender a ouvir a voz da consciência. Para esse fim, os educadores lhe incutirão um verdadeiro horror à falta de sinceridade em atos e palavras. A mentira corrompe o caráter, profana o coração e deixa-o à mercê das paixões. O lar doméstico deve ser, para a criança, uma verdadeira escola de veracidade.


2. Pecados contra a Veracidade

a) Tagarelice ou loquacidade

A pessoa loquaz corre perigo de ofender continuamente a verdade, a justiça e a caridade. A loquacidade é sinal de que a pessoa não tem o domínio de si mesma. É muito prejudicial para a vida de virtude: "Pessoa loquazes ferem como acicates, mas a língua dos circunspectos é uma fonte de saúde" (Provérbios 12, 18, texto grego).

b) Indiscrição ou criminosa revelação de segredos

O segredo baseia-se na natureza da coisa (sigilo de confissão, segredo de correspondência, etc.), em promessa formal (assuntos confidenciais, etc.), em cargos e profissões (sigilo de médico, sigilo bancário, etc.).

O sigilo sacramental não pode ser traído de maneira alguma. Os demais segredos podem ser revelados, quando assim o exigirem razões de peso, como a obrigação de salvaguardar os direitos da coletividade (censura do correio, obrigação de denunciar certas moléstias à saúde pública, etc.).

c) Mentira ou falsificação da verdade

É uma afirmação ou negação que se opõe conscientemente à convicção interna da pessoa. A intenção de enganar não falta quase nunca, mas não pertence à essência da mentira. Distinguem-se em mentiras jocosas, danosas e oficiosas.

Mentira jocosa é a que se diz por brincadeira.
Mentira danosa é a que se diz para prejudicar o próximo.
Mentira oficiosa é a que se diz para sair de alguma situação difícil ou desagradável.

Todas as modalidades da mentira são pecaminosas. 
As mentiras jocosas e oficiosas são pecados veniais. 
As mentiras jocosas deixam de ser pecado se forem tomadas por mera brincadeira. 
As mentiras danosas podem ser faltas graves, se forem causa de prejuízos consideráveis.

d) Restrição mental ou ocultação da verdade

Consiste em restringir o sentido de uma expressão, ou dar-lhe um sentido em que não costuma ser tomada. Serve para encobrir uma verdade que não se quer ou não se pode revelar (segredo profissional, etc.).

Existem duas classes de restrição: perfeita (puramente mental) e imperfeita (parcialmente mental).

A restrição perfeita é uma mentira disfarçada. Não deixa, de maneira alguma, chegar ao conhecimento da verdade (dizer que não roubou, com a restrição puramente mental de que não foi com a mão esquerda, mas com a direita).

A restrição imperfeita pode ser facilmente reconhecida pelas circunstâncias. Quem recebe a resposta, logo sabe que não se quer, ou não se pode responder (dizer que não sabe, com a restrição de que não sabe para comunicar a outrem; a frase "não está em casa" quer dizer que não está para visitas, etc.).

   aa) Nunca é lícito usar de restrições puramente mentais.
  
   bb) Havendo causa grave e razoável, é lícito valer-se de restrições imperfeitas, a não ser que o interlocutor tenha o direito de saber a plena verdade (pais, juízes, superiores, etc.). Para guardar algum segredo profissional, pode a pessoa responder: "Não sei" (restrição "... nada que me seja lícito revelar").

Praticamente é difícil formular a restrição sem ofender nem de leve a verdade. Por isso, deve ser empregada raramente. Perturbar-se-ia a ordem social se em todas as palavras do próximo tivéssemos de suspeitar alguma restrição.


e) Dissimulação, hipocrisia, lisonja ou adulação

Encerram falta de sinceridade, e são indignas de um cristão. Por via de regra, corrompem inteiramente o caráter (criaturas venais).

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Tillmann, Frederico. A MORAL CATÓLICA. 2ª Edição. Editora Vozes, 1953. p. 189-191.

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